segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Bilhete suicídio

Esqueci-me do comando, tenho medo de pensar onde o deixei e da dor de saber quem o tem. Quero mudar, mas não consigo. Quero o canal da nostalgia tão querido e tão manhoso, tenho saudades de mentir. Cometo a doce loucura de escrever um bilhete a ninguém, para que ninguém me ouça.

"Veste-me de preto, e cospe sobre mim o cheiro do teu perfume. Enterra-me, para que um dia volte a viver."

domingo, 18 de julho de 2010

A Merda de um copo morto

Velhos hábitos arrastam a vontade enlouquecida de esquecer alguém que eu queria ser.
Afogo-me num Martini como que suspirando un tango e o tempo do cigarro transpira um fado ensaiado em minha casa, a minha pobre casa.
E no fim, fui ao balcão negociar um crime dedicado à ignorância. Troquei um sonho por meia dúzia de tostões.
P.S - és uma merda .

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Monólogo tardio

Impulsos tardios sangram-me nas mãos, alimentados pela doce deflagração da saudade. No meu quarto nasce um teatro e entra o triste a lamentar-se. Embebeda-se em prosas ternurentas, abraça-se ao poeta que há em si e chora frases ao seu amor.
O monólogo sussurrado pelo toque meigo da caneta no papel move-se pela magia do improviso numa viagem ao desconhecido. Corações miam baixinho, e o mundo ladra. O artista é fraco e palavras pesadas tornam-se eternos labirintos cuja arquitectura sublime derrama um veneno frio sobre a inocente inspiração.
E aqui, as cortinas gigantes escondem o palco, o teatro encerra e envolve-se num pó de solidão. Aqui, o artista morre para que um dia volte a viver.

P.S - fica a Saudade, S .

terça-feira, 1 de junho de 2010

Olhar no vazio

Comecei a borrotar o papel, de olhos fechados e com a mente preparada para pintar um belo desabafo.
Tracei linhas sem princípio nem fim, manchas da maré psicológica, e por fim, o silêncio ficou. Pequenos espaços brancos. Vazios, por preencher no papel.
Eram falhas minhas, fuga à realidade, medos talvez. Algo que fazia parte do meu carácter que nem com o papel, ser puro e digno de confiança total, quis partilhar.
Mas quis eu apelidar este risco de obra. Não é digno do atrevimento, é apenas tão complexo e tão vulgar. Tão cheio e tão vazio.
E tão simples ao mesmo tempo. Quem sou eu para criar sem a razão de ser criador? Vagueio, e perco-me numa mistura de traços e ideias que em mim não são nada. Sim, sou algo vazio.
E se me perguntares porquê, dir-te-ei que ofereci. Prometi ao mundo o suspirar e ele encarregou-se de o levar.
E que suspiro tão leve, sem nada que o prenda. Algo tão sublime e poderoso. Algo que nunca vais querer compreender, é algo que não é teu nem meu. Como já te disse, dei ao mundo, que por sua vez também não é meu, nem teu.
Nada possuo. Espero um dia ser preenchido, como a cada inspiração roubar o suspiro ao mundo, e encher... encher o vazio. Ter novamente algo para oferecer.
Mas ainda assim, sei que vou voltar a desaparecer. E que rotina tão inata em mim e nos outros. Quero ser diferente e não consigo. Sou louco se disser que é fácil e fraco se não o contrariar. Que dilema tão imperfeito, tão igual a nós.


João Tavares , Sara Leitão

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ladrar à noite



Não.

Não, não penses que o frio é cruel para ti, porque é nele que o meu sangue afoga o que me traz a maré, tão mero e tão ingénuo que me chateia e que me impede de nadar no juramento que eu escrevi ao passado. Lembrá-lo é uma ideia que não pensa por si, nem por ti, nem por mim, não somos cães de ninguém. Eu só gostava de um dia não o ser, porque à noite o cruel animal nasce em mim, tão duro e romantico acompanhado de um fim.

E sei que um dia tu não vais entender, que este mundo é cão e tudo há-de morrer. Larga a minha mão, quero viver.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma hora de verdade

São três da manhã, e o mundo sonha e não faz questão em abrir os olhos. Hoje, preferi não sonhar e calcar o piso frio que nos acorda para a realidade. Encarei o silêncio e a noite olorosa de pura melancolia com um cigarro na mão e comecei a criar de novo.
Sinto-me senhor de um universo que não é meu. Quebro o vazio com o barulho da caneta e com um olhar discreto para um céu sublime e omnisciente que, na verdade, não existe. Torno o pouco em muito e, por defeito, o que é simples em complexo. Encontro em mim um sentido cruel acerca do dia, que a todos aparenta verdade e razão. Este é um mero enganador que nos cansa com as suas mentiras para não nos deixar amar a noite. Sim, cansei-me, mas estou aqui mais forte que ontem, que nos outros dias tão pouco semelhantes com este universo que não é meu, volto a repetir. Hoje revoltei-me com a ignorância e sim, estou aqui.
Agora, descobri uma verdade e mudei de ideias. Amanhã, não vou ser ninguém e sei que ninguém vai ser como eu. Decidi esquecê-la e não partilha-la convosco. E porquê? Mais uma vez sublinho: porque este universo não é meu.



(acabou às quatro)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Por mar dentro


Dá-me a tua mão, eu não te vou deixar. Estás a ver o mar? Não, não olhes. Esconde os olhos, eu dou-te a minha mão. Consegues ver agora? Sim, é algo que nos ultrapassa, portanto não tentes capturar o momento, vive-o. Estamos a entrar mar dentro, não tenhas medo, estou aqui. Já podemos falar, aqui ninguém nos vai ouvir. Não há segredos, não há medos, só estamos nós. Porque sorris? Tantas foram as vezes que já estivemos assim.

Estou tão assustado, não sentes o mesmo? Sem querermos damos tanto um ao outro, até mesmo o que não queremos dar. E o cuidado? Onde está o pensamento e a opção? Afogaram-se, e só o impulso conta. E que impulso tão puro é este. Os traços na tua face já me contaram tudo, não vale a pena a tua tentativa de fuga. E que bom que é estar assim contigo. Lembras-te de tudo o que não te disse? É tudo mentira, porque só se torna verdade quando sou eu a dar-to.

E neste mergulho, nada mais foi mais que nada. Porque os meus olhos já estão molhados, e esta realidade não me vai realizar em nada.

P.S - não me largues a mão, a vida são segundos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma Rua Criminosa


O traço que desenhei na Rua dos Perdidos não foi pensado, muito menos propositado. As serenatas que lá se cantavam eram inspiradas naquela tão amarga loucura que pairava no ar. A melancolia das palavras era algo que confortava todos os que ali passavam.

As casas caíam, eram velhas e vazias. À noite, os candeeiros pouco iluminavam, criavam um ambiente frio e escuro que a tantos agradava e a mim me assustava. Todos queriam o que, a meu ver, era indesejável. Em todo o caso, quis saber o porquê deste sentido contrário e desta diferença que em nada se mostrava semelhante a mim.

Simplesmente, não encontrei respostas. A insanidade era algo criminosa, queimava páginas de socorro que tantos escreveram e que tantos continuam a escrever para fugir daquela Rua que a tantos tortura, que a tantos desorienta. Faço de conta que não pertenço aqui e espero que um dia me venhas buscar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sentidos


Não olhes para mim, para o mundo, para o dia, para a noite. Fecha os olhos. Não me ouças, despreza toda a palavra que vai ao teu encontro, tapa os ouvidos. Não me toques, larga o que tens nas mãos, tira os pés do chão, liberta-te do tacto. Não fales, não te enganes, não digas o que não queres dizer. Pára de pensar em mim, pára de pensar nos outros.

Agora cuida em ti, olha para ti, ouve-te e sente-te. Fala contigo própria e volta a pensar. Segue o teu destino.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Um comboio sem hora


Eram sete horas, o sol já tingia o céu com tons quentes e, como forma de despedida, mergulhava lentamente numa linha defenida pela água e pelo céu. Estava sozinho, e aproveitei para roubar uns trocos, que a minha mãe escondia na mesinha de cabeceira, para comprar o bilhete do comboio. Deixei-lhe uma carta que explicava a minha ausência, como tentativa de conforto.

Saí e cheguei sozinho. Comprei o bilhete e entrei num comboio velho, mas belo. Era algo melancólico, dentro dele pairava um cheiro acolhedor que suplicava a minha presença. O pó nos bancos não mentia, ali já ninguém se sentava há muito tempo. A ferrugem segredava-me que estava ali manchada pois este nunca mais viajara pelo paralelismo priveligiado onde só os comboios passeavam.

Não havia maquinista, já estava escuro e eu não conseguia ver a hora de partida. Esperei, e nada. Fui embora e, noutro dia, voltei a ver o comboio parado, sem ir a lado nenhum. Hoje, ainda guardo o bilhete no bolso. Pode ser que um dia, o comboio parta. Estar lá ou não estar, só vai depender de mim.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Fúria



A incapacidade consecutiva de estar bem e de criar um ambiente medido em palavras e pensamentos é algo sufocante. Tem sido difícil tornar o mínimo desejo em mínima realidade e a inconveniência tomada pelos problemas quase que congela de tanto fria que é.

Têm sido dias de chuva num Verão que prometia ser quente. As horas que pareciam ser absolutamente compremetidas com planos creativos, produtivos, e até mesmo algo confortantes, numa relação sincera, não passaram de um vazio em que nada se disse, nada se fez. Agora mesmo escrevo um erro enquanto o cometo, porque não é esta lamentação que me vai tornar concretizado. É um erro, eu sei. Mas também um desabafo com a caneta e com o papel, que em tanto me completam. Segredos infelizes são os piores que guardamos, Dificilmente partilhamos a dor que com eles sentimos, porque na nossa ignorância e no nosso lado menos racional, é esta a maneira mais fácil de nos protegermos e de talvez tentarmos proteger os outros.

Toda esta conversa é no fundo uma discussão e ao mesmo tempo um silêncio barulhento que estou a partilhar contigo. É uma fúria, uma miragem de calma, uma mistura enternecedora que envolve tudo o que é mau, mas também tudo o que é bom para mim. Obrigado por me ouvires, obrigado por estares aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Não sei


Eu não sei e simplesmente não sei o que tenho. Também não sei se saberei algo, mas o pouco algo que sei é saber que pouco tenho. Mas se tenho e não sei, de que vale ter?
Porque eu só sei que apenas o terei quando souber que sei o que tenho.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Prisma



O desejo que ofusca e a culpa cega que a todos cega, iluminam-se num vazio de palavras para chegarem até ti. Nos teus olhos e em todo o teu entender, encontram um prisma onde a aleatoriedade me assusta e a surpresa é um segredo que acabas sempre por partilhar.

Um dia, vou-me sentar num banco, e sozinho, cuidar neste bloco de notas que num breve devaneio se tornou num livro. Vou cuidar, para que o meu ponto forte não seja o mais fraco e para que o fraco continue ainda mais fraco.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Campos

O vazio enche-nos e o nada torna o pouco muito. O silêncio é uma melodia e nisto, todo o sussurro nos chega ao ouvido como um grito violento. Aqui, a solidão não nos deixa de todo sós, mas sim aconchegados com nós mesmos. A única orientação é a luz do dia e o brilho da noite, o tempo simplesmente não existe. A vontade de mudar é pouca, pois tudo é igual no campo da aparência. Já a percepção de tudo o que nos rodeia depende de cada um de nós.
Os campos, no fundo, são meros espelhos. Neles, encontramo-nos e conhecemo-nos. A influência não existe e só o que é puro nos influencia. Estamos longe de tudo, menos de nós próprios e, no fim, assustamo-nos com aquilo que realmente somos. Preciso de me deitar no campo.

Quero o verde que me define e o ar puro que me influencia. Quero o tempo longe de mim e o céu como tecto. Quero o campo, e só o campo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Retrato

Para te expôr num quadro perderia uma vida inteira para o fazer. Não é só fazer um simples desenho da tua face, é muito mais que isso. É conseguir transmitir mil e uma palavras num só único ponto, é conhecer-te e, a partir de todo o teu promenor, tingir o teu retrato com todas as cores que te identificam.
Nos cabelos tens o brilho, o traço indefenido, a imperfeição e a perfeição conjugadas. Nos olhos, a natureza da verdade e o sentimento despido, sem nada a esconder. O sorriso segue o olhar, e quando a intensidade entre os dois atinge um nível que nem tu controlas, este explode e atinge os outros num impeto inconsciente de os fazer sorrir. No pescoço, sobressai uma ligeira sensualidade que no início foi um segredo que tentei descobrir. E nas mãos, nas tuas lindas mãos, guardas o vício, um bailar entre as duas que sempre me chamou à atenção.
E como num quadro cada ponto transmite mil e uma palavras, neste texto cada palavra exprime mil e um significados e sentimentos que só tu podes decifrar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sem nada nos bolsos


Aqui estou eu, sem nada nos bolsos. Vim sozinho, pedi à Noite para se esconder atrás de uma árvore e à Lua para tapar os olhos. Agora só somos nós, eu e tu. As baladas cantadas pelo vento foram ensaiadas desde o momento em que gravei o teu nome nos meus lábios. Não era paixão e não soava a amor, era mais especial. Todos os batimentos nos momentos em que aparecias nas minhas paisagens eram como cravos atirados no meio de um ambiente bélico que me faz ter medo de ti. O sentimento retrógado e alado tatuou-te no meu peito e, agora, aqui estou eu, sem nada nos bolsos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Código Morse


Já aprendi a falar o que tu falas, mas mesmo assim, não sei falar. Já aprendi a pensar como tu pensas, mas não consigo, no entanto, é difícil pensar. Decorei todas as tuas visões, todas as paisagens, mas nos meus olhos o mar e o céu continuam azuis e não da cor com que tu os vês. Ando perdido de ti e já não me encontro. As cábulas e as lembranças são códigos que não consigo decifrar.

Um dia, vou-te encontrar e, em código morse, vou cantar a melodia, o som, o que me faz gostar de ti.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Poema cresce...

O poema cresce
Num olhar e no sorriso.
Entrenha-se no pensamento
E fecha-se cá dentro.
Escreve-se sozinho
Num rascunho de tinta vermelha.
Uma tinta permanente,
Sem vento que a leve
Ou sombra que a disfarce.
E no fim,
Escreve-se com as mãos,
Como um grito silencioso
A quem não nos dá atenção.

(Peço desculpa pela falta de cuidado com os meus seguidores,
pois o tempo que tenho para aqui passar é muito pouco...
Agradeço a todos os que me inspiram e que me voltaram a
dar vontade de escrever... Obrigado "meu filho" ;D)