Eram sete horas, o sol já tingia o céu com tons quentes e, como forma de despedida, mergulhava lentamente numa linha defenida pela água e pelo céu. Estava sozinho, e aproveitei para roubar uns trocos, que a minha mãe escondia na mesinha de cabeceira, para comprar o bilhete do comboio. Deixei-lhe uma carta que explicava a minha ausência, como tentativa de conforto.
Saí e cheguei sozinho. Comprei o bilhete e entrei num comboio velho, mas belo. Era algo melancólico, dentro dele pairava um cheiro acolhedor que suplicava a minha presença. O pó nos bancos não mentia, ali já ninguém se sentava há muito tempo. A ferrugem segredava-me que estava ali manchada pois este nunca mais viajara pelo paralelismo priveligiado onde só os comboios passeavam.
Não havia maquinista, já estava escuro e eu não conseguia ver a hora de partida. Esperei, e nada. Fui embora e, noutro dia, voltei a ver o comboio parado, sem ir a lado nenhum. Hoje, ainda guardo o bilhete no bolso. Pode ser que um dia, o comboio parta. Estar lá ou não estar, só vai depender de mim.