segunda-feira, 8 de março de 2010

Por mar dentro


Dá-me a tua mão, eu não te vou deixar. Estás a ver o mar? Não, não olhes. Esconde os olhos, eu dou-te a minha mão. Consegues ver agora? Sim, é algo que nos ultrapassa, portanto não tentes capturar o momento, vive-o. Estamos a entrar mar dentro, não tenhas medo, estou aqui. Já podemos falar, aqui ninguém nos vai ouvir. Não há segredos, não há medos, só estamos nós. Porque sorris? Tantas foram as vezes que já estivemos assim.

Estou tão assustado, não sentes o mesmo? Sem querermos damos tanto um ao outro, até mesmo o que não queremos dar. E o cuidado? Onde está o pensamento e a opção? Afogaram-se, e só o impulso conta. E que impulso tão puro é este. Os traços na tua face já me contaram tudo, não vale a pena a tua tentativa de fuga. E que bom que é estar assim contigo. Lembras-te de tudo o que não te disse? É tudo mentira, porque só se torna verdade quando sou eu a dar-to.

E neste mergulho, nada mais foi mais que nada. Porque os meus olhos já estão molhados, e esta realidade não me vai realizar em nada.

P.S - não me largues a mão, a vida são segundos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma Rua Criminosa


O traço que desenhei na Rua dos Perdidos não foi pensado, muito menos propositado. As serenatas que lá se cantavam eram inspiradas naquela tão amarga loucura que pairava no ar. A melancolia das palavras era algo que confortava todos os que ali passavam.

As casas caíam, eram velhas e vazias. À noite, os candeeiros pouco iluminavam, criavam um ambiente frio e escuro que a tantos agradava e a mim me assustava. Todos queriam o que, a meu ver, era indesejável. Em todo o caso, quis saber o porquê deste sentido contrário e desta diferença que em nada se mostrava semelhante a mim.

Simplesmente, não encontrei respostas. A insanidade era algo criminosa, queimava páginas de socorro que tantos escreveram e que tantos continuam a escrever para fugir daquela Rua que a tantos tortura, que a tantos desorienta. Faço de conta que não pertenço aqui e espero que um dia me venhas buscar.