Comecei a borrotar o papel, de olhos fechados e com a mente preparada para pintar um belo desabafo.Tracei linhas sem princípio nem fim, manchas da maré psicológica, e por fim, o silêncio ficou. Pequenos espaços brancos. Vazios, por preencher no papel.
Eram falhas minhas, fuga à realidade, medos talvez. Algo que fazia parte do meu carácter que nem com o papel, ser puro e digno de confiança total, quis partilhar.
Mas quis eu apelidar este risco de obra. Não é digno do atrevimento, é apenas tão complexo e tão vulgar. Tão cheio e tão vazio.
E tão simples ao mesmo tempo. Quem sou eu para criar sem a razão de ser criador? Vagueio, e perco-me numa mistura de traços e ideias que em mim não são nada. Sim, sou algo vazio.
E se me perguntares porquê, dir-te-ei que ofereci. Prometi ao mundo o suspirar e ele encarregou-se de o levar.
E que suspiro tão leve, sem nada que o prenda. Algo tão sublime e poderoso. Algo que nunca vais querer compreender, é algo que não é teu nem meu. Como já te disse, dei ao mundo, que por sua vez também não é meu, nem teu.
Nada possuo. Espero um dia ser preenchido, como a cada inspiração roubar o suspiro ao mundo, e encher... encher o vazio. Ter novamente algo para oferecer.
Mas ainda assim, sei que vou voltar a desaparecer. E que rotina tão inata em mim e nos outros. Quero ser diferente e não consigo. Sou louco se disser que é fácil e fraco se não o contrariar. Que dilema tão imperfeito, tão igual a nós.
João Tavares , Sara Leitão